śrī śrī guru gaurāṅga jayataḥ!

Ano1, Volume 4, Amāvasyā
Edição Especial
Dedicado a
nitya-līlā praviṣṭa oṁ viṣṇupāda
Śrī Śrīmad Bhakti Prajñāna Keśava Gosvāmī Mahārāja
Inspirado por e sob a guia de
Śrī Śrīmad Bhaktivedānta Nārāyaṇa Gosvāmī Mahārāja
Em Celebração a Akṣaya-tṛtīya
Śrī Śrīmad Bhaktivedānta Nārāyaṇa Gosvāmī Mahārāja

No dia de Akṣaya-tṛtīya, 18 de abril de 1961, Śrīla Gurudeva – Śrī Śrīmad Bhaktivedānta Nārāyaṇa Gosvāmī Mahārāja – proferiu um discurso na Mahārāṣṭra Maṇḍala, em Mathurā. Anotações sobre sua palestra foram posteriormente publicadas na revista Śrī Bhāgavata-patrikā, Ano 6, Edição 12, sob os auspícios de Śrīla Gurudeva. A seguir, estão trechos selecionados desse discurso.
No dia 18 de abril [de 1961], no principal centro de pregação da Śrī Gauḍīya Vedānta Samiti na região – a Śrī Keśavajī Gauḍīya Maṭha, em Mathurā – Akṣaya-tṛtīya foi celebrada com grande pompa. Foi exatamente no dia de Akṣaya-tṛtīya que a Samiti foi fundada. Nesta ocasião, a convite especial da Mahārāṣṭra Maṇḍala de Mathurā, Śrīmad Bhaktivedānta Nārāyaṇa Mahārāja, editor da Śrī Bhāgavata-patrikā, chegou ao local acompanhado dos brahmacārīs do Maṭha. Após o saṅkīrtana realizado pelo grupo de kīrtana do Maṭha, Svāmījī [Śrīla Gurudeva] proferiu um discurso conciso e inspirador sobre Akṣaya-tṛtīya, no qual apresentou várias razões pelas quais este dia é tão glorioso.
Foi neste dia que Bhagavān reinicia o Satya-yuga, após destruir os ateus (assim chamados) budistas em Sua encarnação como Kalki. Segundo certos compiladores das escrituras, o Treta-yuga também tem início neste dia auspicioso. Este é o primeiro dia em que o yajña (sacrifício sagrado com fogo), conforme descrito nos três Vedas, foi iniciado. Neste mesmo dia, o śaktyāveśa-avatāra (encarnação empoderada) de Bhagavān, Paraśurāma, também fez Seu aparecimento auspicioso. Por vinte e uma vezes, Ele erradicou da Terra as sociedades hostis a Bhagavān e Seus bhaktas, com o propósito de estabelecer uma sociedade dhārmika (espiritualmente iluminada).
Hoje também é o dia auspicioso em que o imperador da Índia antiga (Bhārata), Bhagīratha, por meio de sua adoração incansável, agradou Bhagavatī Bhagīrathī (Gaṅgājī), que mais tarde fez sua aparição em Bhārata-bhūmī, tornando esta terra supremamente pura. Hoje é o dia em que se reabrem as portas do templo do Senhor Śrī Śrī Badri-nārāyaṇa [nos Himalaias]. E também é o dia em que, em Śrī Purī-dhāma, é celebrado com grande cerimônia o festival de Candana-yātrā do Senhor Śrī Kṛṣṇa.
Portanto, ao observarmos os Purāṇas e os Itihāsas (histórias antigas), aprendemos que hoje é um dia de revolução espiritual. Hoje é o dia em que a sociedade irreligiosa, ateísta, corrupta e puramente materialista deste mundo foi erradicada e, em seu lugar, lançou-se a fundação de uma sociedade religiosa, teísta e espiritual. Uma sociedade completamente materialista conduz à destruição do mundo, enquanto uma sociedade religiosa com fé firme em Bhagavān é a base da paz neste mundo.
O respeitado editor [da Śrī Bhāgavata-patrikā] então começou a explicar como a maioria das pessoas, encantadas com a cultura ocidental, acredita que Rússia e América conduziram o mundo a uma nova era divina ao enviar a humanidade ao espaço sideral. Como resultado, acredita-se que a sociedade atual esteja progredindo rumo ao estágio mais elevado de avanço.
Mas eu pergunto: embora seja inegável que avanços miraculosos estejam ocorrendo na ciência, esses avanços resolveram o problema da ausência de paz mundial? A questão da fome não piorou em vez de melhorar? A escassez de alimentos e vestuário foi resolvida? Ou está ao menos em processo de solução? O problema das doenças diminuiu? Ou está aumentando e assumindo formas cada vez mais terríveis? Os complexos problemas do mundo — como corrupção, imoralidade, suicídio, redes de engano, roubos, regionalismo, preconceito linguístico, racismo, desobediência civil inútil e protestos — não estão surgindo de formas cada vez mais novas? Esses problemas não estão se tornando mais e mais complexos a cada dia? Os problemas que surgiram a partir de eventos trágicos e vergonhosos em lugares como o Congo, Tibete, Japão, Coreia e Suez não envergonham aqueles que se vangloriam do progresso no mundo? A violência contínua e a tortura arbitrária de aves e animais — os seres inocentes deste mundo — seriam um exemplo de igualdade e amor universal nesta chamada era científica? Que vergonha deste progresso materialista falso e bárbaro e de seus heróis.
A verdade é que os cientistas materialistas de hoje podem dizer o que quiserem, mas suas ações mostram que consideram o corpo feito dos cinco elementos como sendo o “eu” (o ser), e se empenham arduamente para tornar esse corpo temporário imortal e prover-lhe o máximo de felicidade possível. Eles não reconhecem as aves e os animais como habitantes legítimos do mundo; consideram-nos apenas como alimento e entretenimento para os humanos.
Os filósofos, estudiosos e sábios da Índia antiga, embora plenamente capazes de realizar avanços tecnológicos, impuseram deliberadamente um firme controle sobre o progresso material. Eles não consideravam este corpo material como sendo o “eu”, mas sim a consciência infinitesimal localizada dentro do corpo — a alma — que é parte integrante da consciência total, Īśvara (Deus).
Nossos filósofos indianos eram cientistas versados na verdade da alma. Focavam toda a sua atenção em como a alma infinitesimal — que por alguma razão se desviou de Bhagavān e ficou presa no ciclo de nascimento e morte no oceano da existência material, sofrendo intensamente — poderia escapar desse destino e alcançar a felicidade e a paz eternas. Ao mesmo tempo, não se opunham a atividades que mantivessem o corpo humano saudável, já que este é um instrumento indispensável para a obtenção do conhecimento espiritual.
Eles também eram muito avançados em ciência mundana. Muitos milhões de anos antes de hoje, Rāvaṇa, Meghanāda e outros viajavam por todo o universo, para cima e para baixo, sem a ajuda de qualquer veículo, avião ou foguete. Agastya Muni bebeu toda a água dos sete oceanos com apenas uma mão. Mahaṛṣī Veda-Vyāsa podia gerar filhos apenas com sua visão. Śukrācārya ressuscitava repetidamente os asuras mortos em batalha pelo poder de seus mantras.
A ciência atual não é nada comparada à ciência de tantos milhões de anos atrás. Ainda assim, aqueles sábios mantinham a ciência material sob controle. Por isso, na cultura antiga, aqueles que desejavam suprimir os interesses espirituais e promover apenas a prosperidade material — como Rāvaṇa, Meghanāda, Hiraṇyakaśipu, Maya-Dānava e outros — eram chamados de asuras (demônios).
Nossos ancestrais sabiam muito bem que, se o progresso fosse apenas material, desprovido de fé no Senhor e de valores espirituais, os interesses espirituais seriam certamente negligenciados. E com isso, a destruição seria inevitável. Por isso, prezavam a vida simples e o pensamento elevado, e se empenhavam em libertar todos os seres vivos do ciclo de nascimento e morte, estabelecendo-os no verdadeiro serviço eterno a Bhagavān.
Se quisermos salvar este mundo da destruição, então, neste dia santificado, de forma unida, devemos nos desfazer do atual estado da sociedade, que está inclinada contra Bhagavān. Devemos nos comprometer a restabelecer uma sociedade religiosa enraizada na ciência espiritual de nossa cultura antiga. Só então será possível que o mundo inteiro alcance a verdadeira paz e a verdadeira felicidade.
Traduzido de Śrī Bhāgavata-patrikā
Ano 6 (1961), Edição 12
pela equipe da Rays of The Harmonist